Parece que nos dançam nos ossos,
As vozes de quem se perdeu.
A perda é violenta pelo que foi.
Mas ainda mais violenta se torna quando não pode ter memória, nome, quando não se lhe conta a história real e é fabulada até ser completamente impalpável. Como se 400 anos de história fossem um sopro que nunca se deu.
Na falta de um monumento memorial das inúmeras, registadas e não registadas, vítimas da inquisição Ibérica, surge-me clara a incandescência dos seus corpos, almas, saber e sentir.
Daquelas e daqueles que pela diferença na fé, no expressar, na orientação sexual, na saúde mental, no poder económico ou até na forma da face viram a vida ser-lhes retirada demasiado cedo e de forma tão cruel.
Às cervejeiras, parteiras, curandeiras e mulheres autónomas.
A quem partiu e nos foi família e linhagem sem que sequer saibamos.
Como se fôssemos gente que não veio de lado nenhum, gente de ninguém.
O Paganismo Ibérico é a nossa herança. Que o que pudermos recuperar nos inspire a sonhar a fé como relação viva, íntima e única com o sagrado em todos os lugares, elementos e relações Naturais e humanas.
Fica este breve memorial como singela e reverente homenagem, pela sua inextinguivel e inestimável incandescência.
No compromisso de guardar a chama, que não incendeia tão pouco esmorece, e é cuidada com tamanho Amor e a própria Vida, até ser passada a quem vem a seguir.
Uma criação em tempo real para local específico.
Por razões históricas, com base na recolha de Teófilo Braga, foram escolhidos os atrios exteriores do mosteiro de São Vicente de Fora e Igreja da Graça, Lisboa.
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Dança, conceito e voz: @irislicangarcia
Vídeo: @mary.nemain – @velvet.arts.photography
Música e edição:
Navras Santos – @advent.mechanism
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